sábado, 29 de dezembro de 2018

Há quanto tempo bebemos vinho?

Uma série de escavações na Georgia revelou evidências da mais antiga produção de vinho do mundo, na forma de vestígios encontrados em vasilhas de cerâmica datando de 6.000 aC - sugerindo que a prática de vinificação começou centenas de anos antes do que se acreditava anteriormente.
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Enquanto existem milhares de espécies de uvas viníferas ao redor do mundo, quase todas derivam de uma única espécie, sendo a uva eurasiática a única espécie a ser domesticada.

Até agora, as vasilhas mais antigas conhecidas a conter vinho datavam de 7.000 a.C., sendo seis recipientes contendo indícios da bebida encontrados nas montanhas Zagros no norte do Irã em 1968.

A descoberta recente lança a evidência mais antiga da bebida mais de meio milênio para o passado.

"Quando nós pegamos uma taça de vinho, colocamos em nossos lábios e a degustamos, estamos recapitulando essa história que tem ao menos 8 mil anos", diz Patrick McGovern, um co-autor do estudo do museu de arqueologia e antropologia da Universidade da Pennsylvania que também trabalhou na descoberta iraniana anterior.

O achado surge após um time de arqueólogos e botânicos na Georgia unirem forças com pesquisadores na Europa e America do Norte para explorar duas vilas na região do Cáucaso, cerca de 50km ao sul da capital Tbilisi.

Os sítios ofereceram um vislumbre de uma cultura neolítica caracterizada por casas circulares de tijolos de barro, ferramentas de pedra e osso e a criação de gado, porcos, trico e cevada.

Os pesquisadores estavam particularmente intrigados por potes de argila cozida encontrados na região - provavelmente pro serem alguns dos mais antigos objetos de cerâmica encontrados no Oriente Próximo. De fato, um jarro de um acampamento próximo tinha quase um metro de altura e um metro de largura, e tinha capacidade para mais de 300 litros. Além disso, era decorado com "bolinhas" que os pesquisadores afirmam que poderiam servir para representar cachos de uvas.


Para avaliar se a produção de vinho era de fato uma parte da vida na região, a equipe focou em coletar e analisar fragmentos de cerâmica de duas vilas neolíticas, assim como amostras do solo. Datação por carbono de grãos e carvão próximos sugerem que os potes datam entre 6.000 a 5.800 a.C.

No total, foram examinados 30 fragmentos e 26 amostras de solo, com a superfície interna  da argila sendo pulverizada para produzir um pó para análise. Enquanto muitas das peças foram coletadas em escavações recentes, duas foram coletadas nos anos 1960; os pesquisadores já suspeitavam há muito tempo que pudessem conter traços de vinho.

A equipe usou então uma variedade de técnicas analíticas para explorar se o solo ou a superfície interna dos recipientes possuíam sinais de moléculas da massa correta, ou com as assinaturas químicas certas, para serem evidências de vinho.

Os resultados, publicados no Proceeding of the National Academy of Sciences, revelam que para oito dos fragmentos, incluindo os dois anteriormente desenterrados, a equipe encontrou traços de ácido tartárico - uma substância encontrada em grandes quantidades em uvas. Testes nos solos associados mostraram índices bem menores do ácido. A equipe também identificou a presença de três outros ácidos ligados a uvas e ao vinho. Outra evidência indicando a presença de vinho inclui o pólen de uvas antigas encontrado nos locais de escavação - mas não na superfície do solo - assim como partículas de amido de uva, vestígios de uma mosca de fruta e células que acredita-se serem da superfície de uvas viníferas no interior de um dos fragmentos.



Apesar da equipe notar que é possível que os recipientes fossem usados pra guardar algo diferente do vinho, como por exemplo as próprias uvas, eles afirmam que o formato das vasilhas é adequado para conter um líquido e que uvas teriam degradado sem vestígios. Além do mais,  não há nenhuma das evidências de que os potes eram usados para fabricar calda, enquanto o suco de uva teria fermentado em questão de dias.

As descobertas sugerem que os locais eram lar dos mais antigos viticultores já conhecidos, superando o recorde anterior sustentado pelos traços de vinho iraniano encontrados a apenas 500km dali, datando de 5.400 a 5.000 a.C. Resquícios de produção de vinho também foram encontrados em um sítio arqueológico Jiahu, na província chinesa de Henan, datando de 7.000 a.C, mas o líquido fermentado parece ser uma mistura de uvas, fruta de espinheiro, fermentado de arroz e hidromel.

Com sua base estreita, os grandes potes de argila costumavam não ficar em pé com facilidade, sugerindo que eles ficassem parcialmente enterrados no solo durante o processo de fermentação, como era o caso para os recipientes iranianos, o que é uma prática tradicional ainda usada em alguns lugares da Georgia.

Davide Tanasi, da University of South Florida, diz que os resultados do estudo são inquestionáveis e que os achados são "certamente o exemplo mais antigo de puro vinho de uva do mundo".

As escavações na Georgia foram financiadas em grande parte pela Agência Nacional de Vinho da Georgia.

"Os georgianos estão absolutamente estáticos", disse Stephen Batiuk, um arqueólogo da Universidade de Toronto e um dos co-autores do estudo. "Eles tem dito há anos que possuem uma longa história de produção de vinho e portanto estamos realmente sedimentando esta posição."

Fonte: The Guardian

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Cantadas: Importunação Ofensiva

Coincidência ou não, após o resultado do segundo turno das eleições 2018, estão chegando à redação da SD vários relatos de mulheres que afirmam ter aumentado o número de cantadas e outras abordagens machistas por parte de desconhecidos na rua. Normalmente em grupo, eles se valem dos números para constrangê-las e intimidá-las a não reagir. Quando enfrentados, respondem, debocham e até filmam as vítimas.

Mas não se enganem. Este tipo de conduta é considerada contravenção penal e é passível de multa.

Decreto-Lei nº. 3.688/41:

Art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo ofensivo ao pudor:

Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.

Segundo o portal oficial do governo federal, as mulheres podem recorrer às delegacias para registrar o boletim de ocorrência contra os agressores. A Defensoria Pública orienta que as vítimas procurem os policiais militares imediatamente. Para que os agentes consigam identificar os autores do assédio, é importante descrever as características físicas e as roupas usadas por ele. O Disque 180 também recebe denúncias de assédio.



O texto acima, interpretado pela atriz Anna Clara Carvalho, é inspirado em milhares de depoimentos relatados através da hashtag #primeiroassedio e em situações enfrentadas, diariamente, por mulheres.

Em 2014, a ONG Olga lançou o livro Meu Corpo Não é Seu, que une dados das pesquisas e reflexões mais atuais a depoimentos pungentes de mulheres que viveram situações de violência. O ebook está disponível por R$5,99 no site da Companhia das Letras.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Epítetos de Dioniso

Epíteto (em grego antigo: ἐπίθετ-ος) é um substantivo, adjetivo ou expressão que se associa a um nome para qualificá-lo. Pode ser aplicado a pessoas, divindades, objetos ou, na taxonomia dos seres vivos, para designar a espécie ou gênero de um vegetal ou animal, respectivamente, epíteto específico e epíteto genérico.

Conheça abaixo alguns dos epítetos de Dioniso.

- Aigobolos (matador de cabras);
- Hugiates (dispensador de saúde);
- Agrios (o selvagem);
- Iackhos (gritador, invocador);
- Aisymnetes (juiz, monarca eleito);
- Iatros (curador);
- Akratophoros (do vinho não-misturado);
- Isodaites (divisor da carne de sacrifício);
- Aktaios (da costa do mar);
- Katharsios (o que libera, o que alivia);
- Anax (senhor);
- Kissobryos (envolto em hera);
- Anthios (deus de todas as coisas florescentes);
- Kissokomes (coroado de hera);
- Anthroporraistes (matador de homens);
- Kissos (hera);
- Areion (o marcial);
- Korymbophoros (carregador de cachos);
- Arretos (inefável);
- Kresios (cretense);
- Arsenothelys (homem afeminado);
- Kryphios (escondido, secreto);
- Auxites (que traz crescimento);
- Lampteros (portador da tocha, de luzes);
- Bassareus (deus raposa, trácio);
- Lenaios (da prensa do vinho);
- Botryphoros (portador dos cachos de uva);
- Liknites (no berço);
- Briseus (filho das ninfas);
- Limnaios (do pântano);
- Bromios (vociferante);
- Luaeus (o que liberta);
- Charidotes (doador da graça);
- Lusios (libertador);
- Choreutês (dançarino);
- Mainomenos (frenético);
- Chthonios (subterrâneo);
- Manikos (louco);
- Dendrites (da árvore);
- Mantis (profeta, vidente);
- Dikerotes (dois chifres);
- Meilikhios (gentil);
- Diphyes (duas naturezas);
- Melpomenos (cantador da harpa);
- Dithyrambos (do hino ditirâmbico);
- Morychos (o escuro);
- Nyktelios (noturno);
- Eiraphiotes (costurando dentro);
- Nyktiphaês (iluminador da noite);
- Eleuthereus (emancipador);
- Nyktipolos (gatuno da noite);
- Euanthes (justo/belo florescer);
- Omadios (do banquete cru);
- Eubouleus (bom conselheiro);
- Omestes (que se alimenta de carne crua);
- Euios (do choro/grito ritual);
- Orthos (o ereto);
- Hagnos (puro, sacro);
- Pelagios (do mar);
- Hues (de mistura);
- Perikionios (da coluna);
- Ploutodotês (o que concede riquezas);
- Sphaleotas (o que causa tropeços);
- Polyeides (de muitas imagens);
- Staphylos (a uva);
- Polygethes (que traz muitas alegrias);
- Sykites (da figueira);
- Polymorphos (de muitas formas);
- Taurokeros (do chifre de touro);
- Polyonomos (de muitos nomes);
- Taurophagos (devorador de touro);
- Polyparthenos (de muitas virgens);
- Tauropôn (cara de touro);
- Protogonos (primeiro a nascer);
- Teletarches (senhor das iniciações);
- Psilax (alado);
- Thriambos (do hino triunfal);
- Pyrigenes (nascido do fogo);
- Thyoneus (filho de Thyone - Sêmele);
- Sannion (o brincalhão);
- Thyrsophoros (portador do tirso);
- Skêptouchos (portador do cetro);
- Trigonos (três vezes nascido);
- Soter (salvador);
- Zagreu (caçador).

E aí, quantos destes nomes vocês conheciam?

Oráculo: Oskophoroi

sábado, 4 de agosto de 2018

Um outro olhar sobre o BDSM

Confira abaixo o ensaio feito pelo fotógrafo alemão Max Eicke, que passou três anos registrando dominatrixes profissionais para o projeto Domina.



Em entrevista para o Independent, o artista comentou que a ideia do projeto surgiu após conversar com uma desconhecida em uma viagem de avião que revelou ser dominatrix. Ele ficou fascinado pela cena e decidiu documentá-la de forma "humana", em oposição à típica abordagem estereotipada que se vê na mídia.

Ao longo dos três anos de pesquisa e entrevista, Eicke aprendeu sobre como o BDSM é erroneamente visto como apenas violento, deixando pouco espaço para romance, emoções ou amor.


"É inimaginável para muitas pessoas que o BDSM seja baseado em consentimento mútuo e que dor com prazer exige uma parcela significativa de honestidade e comunicação", ele afirma. "Conversando com tantas pessoas da comunidade BDSM e fetichista, eu realmente fiquei com a impressão que dentro da cena existe frequentemente mais respeito pelo outro, mais conhecimento sobre sexo seguro e um nível maior de abertura e confiança que em muitos relacionamentos convencionais."


O livro Domina está à venda pelo da Hive, que entrega no Brasil.

terça-feira, 31 de julho de 2018

Com que freqüência você bebe?

Dr. Drauzio Varella fala sobre alcoolismo e as conseqüências positivas e negativas do consumo de bebidas alcoólicas.

domingo, 22 de julho de 2018

Bala com gosto de drink pode?


Balas, refrigerantes, sorvetes, iogurtes e com sabor de bebida alcoólica têm gerado preocupação na França por sua popularidade entre as crianças. O assunto, comentado pela Folha de São Paulo, foi matéria do jornal Aujourd'hui en France na última quinta-feira (19/07), com especialistas em dependência apontando os riscos do marketing e do consumo desses produtos para os pequenos. Mesmo que as guloseimas não possuam teor alcoólico, a sociedade teme que esse tipo de publicidade (referida por um dos entrevistados como abominável e insalubre) leve os jovens a subestimarem o álcool quando crescerem.

A França, um dos maiores produtores de vinho do mundo, tem bebidas alcoólicas inspirando até mesmo o perfume de xampus, sabonetes, cremes e óleos para o corpo. Com uma relação tão íntima com o álcool, não surpreende que o mercado explore o desejo das crianças de imitarem o comportamento dos adultos. O país possui até um espumante (sem álcool) para crianças, o champomy.

Vejo muito sentido que haja preocupação em relação às possíveis conseqüências negativas que a naturalização do consumo de bebidas alcoólicas possa ter para os jovens, mas não consigo deixar de estranhar que essa mesma crítica não seja feita em relação aos doces em si. Quer dizer, não pode dar doce com gosto de drink pra uma criança, porque ela pode se tornar alcoólica quando for mais velha, mas pode dar doce sem medo de conseqüências muito mais imediatas como obesidade, hipertensão e diabetes?

Na França, o consumo de álcool está relacionado a cerca de 50 mil mortes por ano, e isso é grave, mas o sobrepeso se mostra igualmente preocupante em todas as partes do mundo. Na Espanha, uma em cada 4 crianças entre 3 e 5 anos de idade está acima do peso recomendado pela OMS. No Brasil, 7,3% das crianças menores de cinco anos já estão com excesso de peso. Quando falamos da faixa etária entre 5 e 9 anos, a porcentagem chega a 33,5%. Segundo pesquisa de orçamentos familiares feita pelo IBGE, refrigerantes e doces somam 13% do que é consumido, mais inclusive que carnes, com 12,6%.
Alguém lembra dos cigarrinhos de chocolate?

E aí, o que pode e o que não pode?

quinta-feira, 19 de julho de 2018

terça-feira, 17 de julho de 2018

Um Novo Começo

A vida é feita de fases e, tal qual a fênix que precisa ser consumida pelas chamas para delas renascer, a Sociedade Dionisíaca enquanto blog passou por um pequeno grande hiato, viveu outras vidas em outras mídias e experimentou outras possibilidades de existência para, por fim, retornar às suas origens e retomar sua proposta inicial imbuída de um novo fôlego.

O blog, fundado em abril de 2009, teve todas as suas postagens revertidas em rascunho para que sejam devidamente revisadas e melhoradas, ou até mesmo descartadas quando este provar ser o curso mais adequado. Nestes quase 10 anos, muita coisa mudou no mundo e, consequentemente, neste que vos escreve.

Questões das mais diversas esferas levaram o blog a ficar em segundo plano por mais tempo do que nos agrada admitir, e a Sociedade Dionisíaca migrou para outras paisagens a fim de seguir em sua missão. Formamos um grupo bacana, formado por artistas, produtores, filósofos, enófilos e libertários em geral. Trocamos intensamente pelo facebook e pessoalmente, e vivemos tretas emocionantes das quais nem sempre saímos ilesos. Promovemos eventos e comungamos uns com os outros e com nosso deus, sempre buscando êxtase e entusiasmo. Conhecemos outros grupos, dedicados a causas dignas de Dioniso nos campos da arte, da ebriedade e da sexualidade, e com eles aprendemos e formamos parcerias. Nossa página do facebook cresceu e chegou a atingir mais de 17 mil seguidores, sempre prosseguindo com a missão de informar e promover o espírito dionisíaco.

Mas, por mais que exista muita coisa interessante sendo feita por outras pessoas e que mereça ser devidamente divulgada, a Sociedade Dionisíaca tem um papel importante na missão de espalhar a Palavra e chegou a hora de reassumir esta responsabilidade. Façamos todos aqui um pacto com Baco para manter o blog e o espírito dionisíaco sempre e cada vez mais vivo.

Para tal, precisamos da sua ajuda, caro leitor, nos dizendo que tipos de conteúdo vocês mais gostariam de ver por aqui: notícias, dicas de filmes, resenhas de livros, crítica de teatro, dúvidas sexuais, dicas de harmonização, opiniões, política, etc.. Deixem suas sugestões nos comentários, pois a voz do povo é a voz dos deuses.

E que Dioniso esteja sempre com vocês.

Evoé, Baco!